Como criar coragem para fazer qualquer coisa

Se eu voltasse no tempo e contasse pro Lucas do passado que, em 2018, ele estaria falando sobre “Como criar coragem” para mais de 100 pessoas, ele provavelmente riria de mim.

Eu sempre fui medroso. Tipo medroso a um ponto de ter medo de sentir medo. Sabe como é? De se fechar para o mundo, para os outros e evitar determinadas situações para não sofrer com elas. E mesmo assim, nos últimos anos:

  • Abri três empresas;
  • Pratiquei, ensinei e vivi do Parkour;
  • Escalei lugares que meu pai enfartaria só de olhar;
  • Conheci mais de 10 países sozinho;
  • Fiz trilhas de vários dias apenas com a mochila nas costas;
  • Aprendi a falar em público de forma tranquila, por horas a fio (ou quase).

E eu não estou falando isso pra me gabar, não. Estou falando isso pra compartilhar que é possível se conhecer e se superar. Hoje compartilho um pouco dessa trajetória (e das lições que eu precisei aprender ao longo do tempo), para superar todos os medos que me acompanhavam.

O medo é uma constante

Ele já vem embutido na atualização Homo Sapiens Sapiens. Sem ele não duraríamos muito tempo, especialmente os homens. O medo é um conjunto de hormônios liberados no seu corpo com a única e exclusiva intenção de fazer você pensar:

EI, ISSO PODE DAR MERDA!

Ele serve pra você entender melhor cada situação do seu cotidiano e avaliar o risco (e risco é diferente de medo) de algo te afetar negativamente. Isso é ótimo. Um belo sistema para nos manter vivos e perpetuar nossa espécie.

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O problema disso tudo é que nós somos o conjunto de todos os estímulos que recebemos na vida e, dependendo do que vivemos, nosso cérebro vai entendendo tudo errado. Vamos falar mais disso no nosso próximo tópico:

Somos o conjunto de tudo que já vivemos

Imagine que você tem pais que te dizem coisas como:

“Desce daí menino, você vai se machucar!”

“Já falei pra você não falar com estranhos, é perigoso”

“É melhor você fazer o que estou mandando ou você vai se dar mal”

A essa altura você deve achar que conheço seus pais, né? Mas, não, isso é apenas nosso instinto de proteção falando mais alto. Nada mais normal do que crescermos com medo de falar com desconhecidos ou termos dificuldade de fazer algo que seja o contrário do que nos pediram ou ordenaram, com medo de dar qualquer passo, que não seja o tradicional, com medo de “se machucar”.

Meu primeiro passo em direção à libertação do medo foi entender que nós acreditamos em coisas que não existem, nessas verdades que adotamos para nós ao longo da vida e guardamos com toda força na nossa caminhada.

Enquanto crescemos, vamos tomando as ideias (boas e ruins) dos outros e as trazendo para perto de nós, sem perceber, tomando-as como certas. Se está difícil entender o que digo, sugiro dar uma lida no conceito de ordens imaginadas, do autor Yuval Harari, do grande livro Sapiens.

E, não me entenda mal: você deve, sim, avaliar os riscos de forma minuciosa, mas saber separar o que é realidade do que é imaginação é imprescindível. Um excelente exercício para saber quando você está inventando desculpas ou se afastando de um perigo real é o Fear Setting, uma dinâmica para você olhar seus medos detalhadamente.

Nós tememos o futuro – e somente ele.

Talvez isso não soe tão natural pra você, mas você só tem medo do futuro. Sim, o passado é sempre seguro, ele já aconteceu. O presente é momento de ação: se você estiver vivendo o presente, sem estar com a cabeça no futuro (chamamos isso de ansiedade), não estará sofrendo por medo.

Imagine que você está andando no meio do mato, morrendo de medo de cruzar com uma cobra. Você caminha pensando coisas como “não quero ver uma cobra”, “se eu ver uma cobra eu morro”, “meu Deus, se eu tomar uma picada eu vou morrer”, “Se acontecer algo eu…”, etc.

Quando, de repente, uma cobra pula na sua direção.

Nesse exato momento acontecem algumas coisas no seu corpo:

  1. Sua reação será controlada por uma região do cérebro chamada sistema límbico, que regula as emoções e está relacionado à memória e ao aprendizado. Os reflexos que você terá assim que perceber a ameaça servirão para que você enfrente ou fuja da ameaça;
  2. Para te ajudar a reagir ao susto, o cérebro ordena às glândulas supra-renais (assim chamadas por estarem localizadas acima dos rins) que liberem na corrente sanguínea a tal adrenalina, hormônio com a função de preparar o organismo para o perigo;
  3. A descarga de adrenalina provoca uma série de efeitos. O primeiro deles é a aceleração dos batimentos do coração e a elevação da pressão arterial. O ritmo frenético aumenta o fluxo sanguíneo nos músculos, deixando-os mais aptos para enfrentar a situação.

Após decidir lutar ou fugir, sem pensar, você estará vivendo este momento e lidando com essa nova situação, sem espaço para pensar no futuro. Esse é um exemplo de como lidar, com todas as suas forças, com o momento presente.

Busque conhecimento

Já concordamos que temos medo apenas do futuro. Agora, talvez você concorde comigo que só temos esse medo pois não conhecemos o futuro. Sim! Se soubéssemos o que iria acontecer, não teríamos medo, correto?

Isso explica porque alguém que já pulou muitas vezes de paraquedas não tem mais medo. Ou porque um bombeiro não tem medo de acessar um prédio em chamas. Lembrando que eles precisam ter preocupação e cautela, pois sabem do risco real existente, mas nunca medo descontrolado.

Quando perguntaram ao Alex Honnold se ele tem medo de suas escaladas livres, sem equipamento de proteção a milhares de metros de altura, a resposta dele foi: eu nunca escalo com medo – se eu tenho medo, eu treino mais até ficar confortável com a situação.

O que aprendemos com isso é: comece pequeno, não olhe pra montanha inteira, mas sim para o passo a seguir e treine, teste e sinta-se seguro antes do próximo movimento, o que nos leva a nosso próximo tópico.

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Pratique micro coragem

Já falamos aqui que somos frutos dos estímulos que recebemos ao longo da vida. Nossos comportamentos repetidos se tornam hábitos – e, mais difícil do que construir um hábito, é se livrar de um.

Se você sempre trava quando vai falar com estranhos, sabe o que vai acontecer quando você falar com o próximo estranho? Sim, eu também sei. Isso se repete para qualquer coisa na vida.

Mas como fazemos para mudar isso? Existem centenas de estudos que falam sobre a criação e mudança de hábitos, mas o que eu mais gosto de sugerir é que você pegue aquilo que tem medo e pratique, de formas menores. Pequenos atos de coragem podem transformar você em alguém muito corajoso antes mesmo que você perceba.

Temos um artigo inteiro falando sobre micro coragem ou micro-bravery, e se você se interessou, é só clicar neste link para lê-lo.

Ficou curioso?

Então temos um conteúdo ainda mais completo pra você. Em março de 2018 falei para o Creative Mornings sobre esse mesmo tema: coragem. A palestra foi gravada e, para acessá-la é só dar play no vídeo abaixo:

Quer estender essa conversa comigo? Então comenta aqui embaixo ou me manda uma mensagem no LinkedIn, Facebook ou Instagram. Vai ser um prazer conversar contigo.

Um abraço e bons atos de coragem pra você! 😉

Comments:

  • Do emocional para o racional: hackeando o medo – Profissas

    […] prático, adaptado do método Premeditatio Malorum, do filósofo grego Sêneca. Falo mais sobre ele neste texto, em que exploro os benefícios do […]

  • Gabriel Brito

    Me chamo Gabriel, e cai aqui nesse site de paraquedas assisti o seu vídeo e achei muito bacana, eu como todo mundo acredito tenho medos que me limitam muito ao mesmo tempo sinto vontade de enfrenta-los mas sei que tudo é um processo, vou assistir outros vídeos e saber mais sobre até porquê não sabia que haviam pessoas que passassem esse assunto a adiante em uma roda de conversas. Ótimo trabalho

  • Ménythen Souza dos Santos

    Interessei bastante sobre.

  • Geremmias leanro

    Gratidão